Nesta sexta-feira, 31 de outubro, o relógio mal marcava 8h quando os primeiros ônibus encostaram. Integrantes de grupos de convivência desceram com camisetas coloridas, pastas de partitura e cartazes artesanais. No saguão do Centro de Convenções da Educação, no Jardim do Vovô, abraços demorados e risadas preencheram o espaço.
 

Entre um gole de café e outro, repetia-se o mesmo refrão de quem se reconhece: “Que bom te ver!”. A saudação coletiva abriu a manhã como um abraço breve, firme e necessário. Essa saudação também deu início à cerimônia e já se percebia o tom do dia: acolhimento, autoestima e pertencimento.
 

Logo o espaço ganhou a barulheira de ensaio e o cheiro de café. O “Sarau da Pessoa Idosa: Vez e Voz” ocupou o palco com o que Campinas tem de mais teimoso e bonito: gente que não desistiu de cantar, dançar e contar do que é feito o tempo. Era o encerramento do Mês da Pessoa Idosa e, ainda assim, soou como começo.
 

Nos bastidores, profissionais da rede de assistência e saúde orientavam sobre benefícios, serviços e atividades continuadas. Entre uma música e outra, equipes apresentavam roteiros de atendimento, horários de grupos e possibilidades de encaminhamento. O clima era de feira de cidadania em formato de sarau, com acolhimento no atendimento, afeto no diálogo e informação na medida.
 

Ao longo de outubro, a Prefeitura de Campinas e parceiros realizaram 35 ações em todas as regiões: rodas de conversa sobre direitos, visitas a vários CRAS e a centros de saúde, e um encontro de corais em parceria com a Unimed. Além disso, dez instituições receberam o Selo Morada Legal. Todas essas ações convergiram para aquele palco, onde cada número artístico também era uma forma de dizer: “Estamos aqui”.
 

Para quem chegou sem saber do que se tratava, bastou uma música para entender: era uma cidade abrindo espaço para que as pessoas idosas fossem sujeitos e não plateia, fossem palco e microfone e não público silencioso.
 

O “Sarau da Pessoa Idosa: Vez e Voz” contou com a presença do prefeito de Campinas, Dário Saadi, que ressaltou que Campinas é referência nacional em políticas públicas para a pessoa idosa e que a cidade busca garantir não apenas longevidade, mas também qualidade de vida. “Os idosos não são apenas beneficiários de políticas públicas, são protagonistas ativos, formadores de uma sociedade mais justa, solidária e consciente do valor da experiência”, declarou.
 

A secretária de Desenvolvimento e Assistência Social, Vandecleya Moro, reforçou a importância das ações integradas entre assistência social, saúde e cultura, e destacou o valor de ouvir e envolver os idosos na formulação das políticas que lhes dizem respeito. “O envelhecimento ativo é uma conquista coletiva, resultado do trabalho das equipes, das parcerias e, sobretudo, da força de quem nunca deixou de acreditar que pode seguir aprendendo, participando e transformando”, acrescentou.
 

O coordenador departamental de Políticas Públicas para a Pessoa Idosa, Diego Gomes dos Santos, agradeceu às equipes e afirmou que o mês foi marcado pelo maior conjunto de atividades da história recente da cidade voltadas ao envelhecimento ativo, somando mais de 450 quilômetros percorridos em ações nos territórios.
 

Terminadas as falas, um acorde de violão anunciou o primeiro número e, dali em diante, a cerimônia transformou-se em sarau. Subiram ao palco o Coral do Núcleo Incômodo Social, o Grupo Viva Pelinhos e outros conjuntos que trouxeram canções de fé, superação e alegria.
 

Um dos momentos mais marcantes do “Sarau da Pessoa Idosa: Vez e Voz” foi a apresentação da canção “Coração Valente”, entoada em coro pelos participantes e acompanhada por palmas e emoção visível no público. A música, escolhida pelos próprios grupos de convivência, simbolizou a força, a resistência e a esperança das pessoas idosas, tornando-se um hino espontâneo à vitalidade e à alegria de viver.
 

Durante a execução, muitos cantavam de pé, outros dançavam suavemente e alguns seguravam as mãos uns dos outros. O refrão “ninguém cala um coração valente” ecoou como síntese do espírito do evento, a celebração de vidas que seguem pulsando com coragem e propósito.
 

Além disso, as apresentações do Coral do Núcleo Incômodo Social e do Grupo Viva Pelinhos trouxeram poesia em forma de canto e movimento. Entre versos e sorrisos, os artistas idosos expressaram, com delicadeza e humor, a mensagem que norteou todo o encontro: “Envelhecer é seguir criando, amando e se fazendo ouvir”.
 

O “Vez e Voz” não se limitou a um mostruário de talentos. Foi um ato público de afirmação de direitos, que colocou a pessoa idosa no centro da cena. Ao valorizar a produção cultural dos participantes e abrir microfones para suas expressões, a Prefeitura e os parceiros ampliaram a escuta qualificada, aproximaram serviços e reconheceram o saber acumulado ao longo da vida. Em termos de política pública, a equação é clara: participação, convivência e acesso.

 

O sarau terminou sob aplausos, com agradecimentos às equipes e instituições. Mais do que apagar as luzes, o encerramento acendeu um compromisso: manter a pessoa idosa no centro do planejamento. A memória de “Coração Valente” ecoou como recado final. Ninguém cala trajetórias que seguem criando, amando e se fazendo ouvir. Outubro se despede, o protagonismo não.