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Ex-agente da Defesa Civil e pioneiro do hip hop em Campinas é homenageado em mural na Glicério

Na Defesa Civil e no hip hop, Luis Claudio Malachias, de 60 anos, contribuiu muito para a cidade de Campinas. Recém aposentado do serviço municipal ele tem agora seu nome estampado em um mural de grafite no terceiro prédio mais alto da cidade. A obra de arte “Raiz Fundamental” do autor e artista campineiro Maicongo está na avenida Francisco Glicério, ao lado do Largo do Rosário, no Centro de Campinas.

A obra traz representatividade com o desenho de uma criança indígena yanomami segurando o livro “Sobrevivendo no Inferno”, do grupo Racionais Mc’s, sentada sobre livros com referências a artistas e a Malachias, pioneiro do hip hop na cidade. O grafite foi iniciado em 16 de julho e entregue na tarde de quinta-feira, 8 de agosto. Foram meses de concepção. O nome escolhido foi pensado como uma mensagem de conscientização e respeito às raízes. “Educação é raiz fundamental, respeitar a ancestralidade é raiz fundamental” segundo Maicongo. Abaixo do mural há uma tela com várias assinaturas de pixo, representando a raiz do trabalho do artista.

Malachias: trajetória na Defesa Civil e no hip hop

Luis Claudio Malachias, de 60 anos, foi servidor da Defesa Civil de Campinas por mais de 30 anos. Mas sua contribuição com o serviço público começou ainda antes disso. “Fui coletor de lixo de 1985 até 1989 mais ou menos. Foi em 1990 que eu passei a ser chefe do departamento de limpeza urbana e fui responsável por coordenar a implantação do projeto de reciclagem de lixo em Campinas”, recordou. 

Malachias explica que após uma inundação na rua Moscou, nos anos 90, o trabalho da Defesa Civil ficou evidenciado e ele se encantou. “Eu acompanhei pelo jornal e pensei: que legal! Os caras fazendo um serviço diferente. Salvando as pessoas. Era tudo muito novo sobre a Defesa Civil ainda e aquilo me cativou “, relembrou.  A certeza de que aquele seria o lugar em que trabalharia foi reforçada em meio a tragédia ocorrida na Dom Pedro, em 1994, após dois caminhões-tanque, um ônibus e dois carros terem causado a morte de seis pessoas e a queda da passarela.

“Quando a tragédia aconteceu, eu estava na Defesa Civil tentando falar com os bombeiros. Na época, a gente se comunicava por rádio e tinha que pedir licença à Emdec (Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas) para poder falar. E, de repente, eu estava ali atendendo o bombeiro e tentando que a antiga Fepasa mandasse a água para o Corpo de Bombeiros que estava trabalhando. Eu soube ali que não sairia mais”, contou o ex-servidor. 

Outra pessoa que se recorda bem dos primeiros anos de Malachias na Defesa Civil, é o coordenador regional e diretor da Defesa Civil de Campinas, Sidnei Furtado. “Lembro do Malachias em 1996. Ele cumpriu todas as ações na área operacional da Defesa Civil, atendimento de ocorrências na rua, atendimento telefônico no 199, foi chefe de setor de Operações e terminou a carreira trabalhando na Assistência da Diretoria da Defesa Civil. Ele cumpriu sua missão com dignidade e dedicação e merece o respeito deste departamento. Ele será lembrado por isso”, disse Furtado. 

Malachias, que hoje é viúvo e tem quatro filhos e seis netos, afirma que valeram até mesmo as renúncias que precisou fazer por conta do trabalho. “Eu passei mais de  25 anos sem estar com eles em festejos. Principalmente nas de fim de ano, que é o período onde chove muito e acontecem desastres”, recordou. “É um trabalho muito útil e faria tudo de novo. Não à toa recebemos um prêmio pelo bom trabalho”, referindo-se ao reconhecimento que o departamento recebeu das Nações Unidas. 

Questionado se após a aposentadoria, sentia falta da correria, Malachias expressou que nem ao menos teve tempo para isso. “Por enquanto, não bateu aquela saudade. E eu não paro, né? Estou envolvido com muitos projetos culturais.” Além de ter contribuído para a cidade com seu trabalho na Defesa Civil, Malachias também tem história na cultura, como retratado no mural da Glicério. Ele foi um dos primeiros dançarinos de Hip Hop  da cidade e já participou de documentários da Unicamp e da PUC-Campinas. “ Sou considerado o vovô do hip hop”, disse. 

Não podendo conter sua alegria, Malachias demonstrou emoção ao falar sobre a homenagem que lhe está sendo prestada no mural no coração do Centro. “Um prédio de 22 andares. São 60 metros de altura por 13 de largura. Vão colocar meu nome lá. Isso é muito legal”. 

Presente para a cidade

A secretária da Cultura e Turismo de Campinas, Alexandra Caprioli, e o secretário do Clima, Meio Ambiente e Sustentabilidade, Rogério Menezes de Mello, estiveram presentes na entrega do mural. “É um presente para a cidade e a mensagem que o artista passa é muito forte: a arte se conectando à vida urbana. É um cartão postal para a cidade”, destacou Alexandra. 


Este projeto é resultado do edital de credenciamento nº002/2023 “Intervenções Artísticas de Arte Urbana, Grafite e Muralismo ‘Campinas Arte Urbana – Paisagens Artísticas no Ambiente Urbano’”, parceria entre a Secretaria do Clima, Meio Ambiente e Sustentabilidade e a Secretaria de Cultura e Turismo de Campinas. O secretário Rogério Menezes também ressaltou o resultado do mural. “Mais um passo desse programa inédito que une cultura à sensibilização sobre temas ambientais. É impressionante o que os grafiteiros estão nos entregando de resultados, parabéns extensivo às equipes das duas secretarias”. O Departamento de Defesa Civil de Campinas, vinculado à Secretaria Municipal de Governo, é o órgão central do Sistema Municipal de Proteção e Defesa Civil, responsável por promover a normatização, supervisão técnica e específica sobre as ações desenvolvidas pelos órgãos do SIMPDEC. Entre em contato pelo telefone 199 para registrar ocorrências.

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