Adesão ao Programa Parto Adequado e novo Centro Administrativo marcam os 104 anos da Maternidade
Sendo o Brasil campeão de cesáreas, a proposta da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) é reduzir os partos cirúrgicos. Na Maternidade de Campinas, as cesáreas representam cerca de 84% dos partos realizados na saúde suplementar. Obras das novas instalações foram custeadas pela Faculdade São Leopoldo Mandic, que mantém mais de 90 alunos de Medicina em aulas na Maternidade.
Em comemoração aos 104 anos de sua fundação – a serem completados no dia 12 de outubro – a Maternidade de Campinas inaugura esta semana as instalações que abrigarão o Centro Administrativo Dr. Eduardo Pereira de Almeida e anuncia a sua inserção na segunda fase do Programa Parto Adequado (PPA), uma iniciativa da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) – desenvolvida em parceria com o Ministério da Saúde, Hospital Israelita Albert Einstein e com o Institute for Healthcare Improvement (IHI) – para a redução das cesáreas desnecessárias e a melhoria no atendimento às gestantes e aos bebês.
A proposta do PPA é mudar o modelo assistencial, qualificando a atenção ao parto e ao nascimento para reduzir as intervenções cirúrgicas desnecessárias e, com isso, reverter os indicadores que transformaram o Brasil no país campeão de cesáreas.
Para promover as mudanças, hospitais e maternidades precisam efetuar adequações de recursos humanos e da ambiência hospitalar para a incorporação de equipe multiprofissional; capacitar os profissionais para ampliar a segurança na realização do parto normal; promover o engajamento do corpo clínico, da equipe e das próprias gestantes, além de rever as práticas relacionadas ao atendimento das mães e dos bebês, desde o pré-natal até o pós-parto.
A inclusão da Maternidade no Programa Parto Adequado será marcada pela palestra da médica Dra. Rita Sanches, do Hospital Israelita Albert Einstein, e dos médicos Dr. Carlos Ferraz e Dr. Marcos Miele da Ponte, respectivamente diretor-presidente e coordenador do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da instituição campineira. O evento será na terça-feira, dia 10 de outubro, às 19h, no anfiteatro da Maternidade, e visa esclarecer o corpo clínico do hospital, enfermeiras, obstetras e os representantes dos convênios parceiros sobre os objetivos e as metas do PPA.
Já o novo Centro Administrativo será inaugurado às 10h da quarta-feira, dia 11 de outubro. O prédio foi reformado graças a uma parceria com a Faculdade São Leopoldo Mandic, que investiu cerca de R$ 700 mil nas instalações como contrapartida ao estágio obrigatório de treinamento que os alunos de Medicina da instituição fazem na Maternidade.
De acordo com o diretor geral da Faculdade São Leopoldo Mandic, José Luiz Junqueira, estão previstos investimentos de outros R$ 300 mil que serão destinados à reforma do ambulatório da Maternidade. Em 2017, a Maternidade de Campinas está atendendo 94 alunos no Internato, com a previsão de ingresso de mais 90 alunos em 2018. “A Maternidade de Campinas tem extensa tradição de ensino médico, agora retomado pela parceria com a São Leopoldo Mandic”, diz o Dr. Guilherme de Menezes Succi, coordenador do curso de Medicina da instituição.
“Nossos alunos têm a oportunidade e o privilégio de vivenciar o dia a dia de um serviço com um dos maiores movimentos de parto do País. Com orgulho, nossa instituição amplia seu propósito de inserção e de transformação do sistema de saúde. Reformas, ampliações, aquisições de equipamentos, capacitação de profissionais e produção de pesquisa na Maternidade trazem satisfação a todos nós da família Mandic”, completa.
Cesáreas representam 70% do total de partos
Responsável por cerca de 60% dos partos realizados em Campinas (cerca de 950 por mês) e referência na região para o atendimento às gestantes de alto risco, a Maternidade registrou 7.658 partos no período de janeiro a setembro de 2017, dos quais 70% (5.355) foram feitos por meio de cirurgias cesarianas.
“Parto adequado é aquele que garante a integridade da mãe e do bebê. Não cabe à Maternidade de Campinas, assim como a qualquer outra instituição de saúde, interferir na relação médico/paciente, assim como na decisão deles quanto ao tipo de parto a ser realizado. No entanto, dentro de normas e procedimentos determinados pelo Ministério da Saúde e pelas Sociedades de Ginecologia, de Pediatria, de Neonatologia, de Anestesiologia, entre outros, para garantir a assistência adequada ao binômio materno-fetal e neonatal vamos procurar conscientizar médicos e pacientes das vantagens do parto vaginal, sempre que ele for adequado”, explica o ginecologista, obstetra e diretor-presidente da Maternidade de Campinas, Dr. Carlos Ferraz.
Foco na Saúde Suplementar
Dos 7.658 partos realizados na Maternidade de Campinas nos nove meses deste ano, 3.712 foram feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), dos quais 2.043 (55%) por meio de cesáreas e 1.669 vaginais. Já pela Saúde Suplementar (convênios) e particulares, o percentual é bem maior: 3.949, dos quais 3.312 cesáreas (83,93%) e 634 vaginais (16,7%).
“Como a Maternidade de Campinas é referência regional para a realização de partos de alto risco (prematuros, gemelar etc.), o percentual de cesáreas pelo SUS é bastante justificável. No entanto, na saúde suplementar, o percentual pode ser reduzido significantemente por meio da conscientização de pacientes e médicos quanto às vantagens do parto vaginal, tanto para as mães quanto para os bebês. A meta, em 18 meses, é aumentar o percentual de partos vaginais para cerca de 40% do total, ou seja, reduzir em pelo menos 10% o número de cesáreas realizadas na Maternidade de Campinas. O foco serão os partos de acordo com a classificação de Robson de 1 a 4 que, resumidamente, seriam as mulheres no primeiro parto ou no segundo, mesmo que o primeiro tenha sido feito por meio de cesárea”, explica o médico.
Vantagens do parto vaginal
Quando não há indicação clínica, a cirurgia cesariana aumenta em 120 vezes a probabilidade de problemas respiratórios para o recém-nascido e triplica o risco de morte da mãe. Cerca de 25% dos óbitos neonatais e 16% dos óbitos infantis no Brasil estão relacionados à prematuridade. Em cesáreas desnecessárias, o recém-nascido pode sofrer complicações respiratórias imediatas e, se o parto for realizado antes das 39 semanas de gestação, o nascimento pode ocorrer antes da completa maturação pulmonar do bebê.
Como em toda intervenção cirúrgica, na cesárea existe risco de mortalidade derivada do próprio ato cirúrgico ou da situação vital de cada paciente. A coordenação do Programa Parto Adequado orienta que, como não há evidências científicas que justifiquem agendar um parto com antecedência – salvo algum risco claro para a saúde da mãe e do bebê – é importante que as mulheres recebam informações e sejam parte ativa na decisão do tipo de parto.
Pesquisas comprovam que a passagem pelo canal vaginal, na hora do nascimento, coloca o bebê em contato com bactérias naturalmente presentes nessa área do corpo da mulher, fortalece o seu sistema imunológico e ainda previne o desenvolvimento de alergias e outros problemas de saúde no futuro.
A ciência já demonstrou também que hormônios naturalmente atuantes durante o trabalho de parto favorecem o vínculo entre mãe e bebê, o aleitamento materno e a recuperação pós-parto.
Segunda fase do PPA
A ANS deu início à segunda fase do Projeto Parto Adequado em fevereiro de 2017. Nessa nova etapa, na qual o projeto foi “promovido” para “Programa Parto Adequado”, o número de hospitais participantes foi ampliado para 153, sendo 128 privados e 25 públicos. A iniciativa também envolve a participação de 65 operadoras de planos de saúde. Com isso, a ANS espera expandir, para o conjunto do sistema de saúde, os impactos positivos provocados pelo projeto durante a fase piloto.