O Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (Condepacc) aprovou o registro do presépio da família Curcio como Patrimônio Cultural Imaterial do município. A votação ocorreu em reunião realizada nesta quinta-feira, 4 de dezembro. O parecer técnico conclui que o presépio representa não apenas um ofício familiar transmitido por quatro gerações, mas uma prática cultural profundamente ligada à identidade campineira.
Estudo técnico
O processo de reconhecimento teve início a partir de um pedido apresentado pelo vereador e presidente da Câmara Municipal, Luiz Rossini, que destacou a importância histórica e afetiva do presépio para a cidade. A solicitação deu origem ao estudo técnico elaborado pela Especialista Cultural Marcela Bonetti, da Secretaria de Cultura e Turismo de Campinas. Foi esse dossiê, fundamentado em pesquisa documental, análise histórica e registro das práticas familiares, que embasou o parecer favorável aprovado pelo Condepacc.
“Receber esse reconhecimento é uma alegria imensa para nós. O presépio sempre foi feito com muito carinho pela nossa família, geração após geração, e saber que esse trabalho agora é valorizado como patrimônio da cidade nos enche de orgulho. É emocionante perceber que aquilo que começou lá atrás, com tanta dedicação, continua vivo no coração das pessoas. Ver esse legado reconhecido oficialmente mostra que todo esforço valeu a pena e nos motiva a seguir cuidando dessa tradição com ainda mais amor”, explica José Curcio.
Legado histórico
A tradição teve início em 1906, quando José Curcio, imigrante italiano vindo da Calábria para trabalhar na Companhia Mogiana, montou seu primeiro presépio na cidade. Apenas o Menino Jesus veio pronto de sua terra natal, esculpido em cedro. O restante — cenários, bonecos, figurinos e mecanismos — foi criado em Campinas, misturando memórias da Itália com referências locais. Entre os personagens favoritos de José estavam o bêbado que enchia o copo, o homem do serrote que “serrava” madeira de verdade e o realejo com o periquito que entregava bilhetes, todos movidos por engenhosos sistemas mecânicos.
O ofício de presepeiro acompanhou a família desde 1884, ainda na Calábria, e se consolidou em Campinas como saber artesanal, técnico e criativo que atravessa gerações. Após a morte de José, em 1949, seus filhos Carmela e Paschoal deram continuidade ao trabalho. Na década de 1970, a tradição foi retomada pela nova geração, liderada por Fernando, Pedro e José Curcio Neto, com apoio de Maria de Lourdes, responsável pelos figurinos. Hoje, a quarta geração — representada por Paschoal e Gabriela — mantém viva a tradição centenária.



