O Centro POP Sares 2 abriu as portas na manhã desta sexta-feira, em Campinas, com o movimento simples de quem acolhe. O Novembro Azul chegou ao último capítulo sem formalidades: havia conversa direta, escuta atenta, perguntas que precisavam de palavra e histórias que enfim encontraram espaço.
Luciano Marinelli, técnico de enfermagem com quase duas décadas de atuação hospitalar e formação em Educação Física, voltou ao lugar onde já havia trabalhado. Chegou com a naturalidade de quem reconhece o ambiente e é reconhecido. Ele disse “A maior parte me conhece, né?”, com um sorriso breve. Ajustou o material, pediu atenção e começou.
O tema das duas sessões, manhã e tarde, foi objetivo: câncer de próstata. No entanto, o que se construía ali ultrapassava o conteúdo biomédico, era a reafirmação de que o cuidado é possível mesmo quando a vida impõe obstáculos diários.
“Nosso compromisso é garantir que a população em situação de rua tenha acesso a orientações de saúde de qualidade. A prevenção do câncer de próstata passa pela informação, e iniciativas como esta reforçam a importância de integrar cuidado, acolhimento e educação em saúde”, afirmou Vandecleya Moro, secretária de Desenvolvimento e Assistência Social.
Luciano explicou antes da atividade “É importante falar desse tema porque a informação não chega para eles. Muitas vezes, se subestima a população em situação de rua. Eles entendem, perguntam, querem saber”.
Durante a apresentação, ele falou sobre PSA, toque retal e sinais que o corpo emite quando insistimos em ignorá-lo. Falou sobre medo e preconceito, sobre o machismo que protege menos do que promete, e relatou casos de homens que chegaram tarde ao diagnóstico.
André, 52 anos, ouvindo sobre a doença pela primeira vez
De boné simples e olhar reservado, André Luiz Madeira contou que conhecia o assunto “parcialmente”. Era um saber fragmentado, comum entre aqueles que precisam se proteger da rua antes de se proteger da doença. Ele disse “Conhecimento é prevenção, né?”, como quem decifra uma lógica básica que o cotidiano costuma dificultar.
Patrick, 34 anos, estreando na conversa
Patrick Miranda nunca havia participado de uma atividade sobre saúde masculina. Sabia que o câncer de próstata existia e desconhecia os riscos. Avaliou a experiência com um “é bom” que, naquele contexto, significou abertura e disponibilidade. Ele prometeu voltar para compartilhar as impressões depois, pois a informação, quando chega com calma, costuma permanecer.
Seu Luiz, 64 anos, começando agora
Luiz Aparecido Justino da Silva já tinha ouvido falar da doença e nunca havia participado de uma ação educativa. Sorriu ao saber que aprenderia mais e seguiu atento durante toda a atividade. No final, todos concordaram que a palestra foi necessária, útil e bem recebida.
Luciano Marinelli não suavizou o conteúdo. Ele falou sobre risco e vidas interrompidas, mas destacou também a rede pública gratuita, os exames acessíveis, a rapidez do toque retal e a diferença concreta que a detecção precoce produz. Ele orientou: “Não tenham preconceito. A vida de vocês não é fácil. Ficar doente sem ajuda é ainda mais duro”. Entre um slide e outro, ele lembrava que sintomas não significam necessariamente câncer, mas significam alerta, e alerta exige consulta. A atividade foi menos uma aula sobre urologia e mais uma conversa sobre dignidade.
Final com gosto doce
Após as falas, as dúvidas e as risadas que quebraram o gelo, veio o lanche. Pipoca, maçãs, sanduíche, bolinhos e um sorvete artesanal, este último doado pela Sorveteria Nelimell, deram ao encerramento um tom leve e quase celebrativo. Ali, entre colheradas, homens conversaram sobre a própria saúde, sobre o medo e a prevenção. Um tema muitas vezes cercado de silêncio transformou-se em conversa de mesa e, talvez, no passo inicial para um gesto de cuidado futuro.
Os Centros POP Sares
Os Centros POP Sares I e II em Campinas constituem o principal eixo de atendimento especializado à população em situação de rua. São vinculados à Proteção Social Especial de Média Complexidade do SUAS (Sistema Único de Assistência Social). As unidades oferecem:
Acolhida e escuta qualificada (ambos);
Atendimento individualizado com planos de acompanhamento (ambos);
Garantia de higiene, alimentação e acesso a documentação (Centro POP Sares II);
Atividades socioeducativas, culturais e de fortalecimento de vínculos (Centro POP Sares II);
Encaminhamentos à rede de serviços e políticas públicas (ambos).
Dados de atendimento:
2024: 13.996 atendimentos (média de 1.166 por mês);
2025 (outubro): 11.703 atendimentos (média de 1.170 por mês).







